sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Professores na pandemia



Este texto não é direcionado para professores, pois estes sabem bem o que vou falar aqui.

Não é fácil viver num país que não nos respeita enquanto profissionais. Não falo de governantes, mas da população como um todo. Principalmente quando nos tratam como babás pagas pelo Estado, ou que consideram a escola um depósito de crianças.

Há quem ache que não estamos fazendo nada na pandemia. Pois bem, então vamos lá: Eu trabalho em um turno só. Mas já trabalhei em 3 e o IR comia metade dos meus ganhos. Quando estou na escola, tenho horários vagos dentro das minhas 25h semanais de jornada. Estes horários vagos, chamados algumas vezes de módulos, me permitem corrigir atividades e resolver assuntos relacionados ao meu cargo, explicando para quem não sabe como funciona a nossa carga horária, que varia de um município para o outro, ou de um estado para o outro. Na pandemia temos as aulas online, atividades não presenciais pra elaborar e pra corrigir e atendemos alunos, pais e chefia sempre que somos solicitados (não importa que dia da semana é e nem que horas são). Já fui chamada por aluno pra tirar dúvida depois de meia noite. Aí, no outro dia que era um sábado, vi a mensagem pela manhã e tive que explicar ao menino que de 0 às 6 eu costumo dormir, sabe? Isso quando consigo. Enfim, esses dias ouvi uma mãe dizer que a gente podia voltar a trabalhar logo, porque não aguentava mais os filhos em casa e temos muitos privilégios. Claro que eu tive que responder, né? Eu disse: "Minha senhora, eu volto com todo prazer, é só me vacinar. Vou rindo. Porque aí eu vou voltar a ter vida fora da Internet." A grosso modo, todos nós (professores de todas as esferas da educação pública e privada) estamos trabalhando muito. Muito mesmo. Agora, pensem nas PROFESSORAS. Elas também têm filhos, que também estão em aula online, fora as tarefas domésticas que na maioria das casas ainda são executadas somente por mulheres. Pra tornar esse quadro ainda mais desesperador, tem professoras que são mães e com filhos pequenos, em idade escolar, morando em apartamento. Pensa nessa saúde mental. Eu tenho um pré adolescente e uma graduanda e não é fácil. Não é fácil. Eu poderia criar cenários mais difíceis que esse pra que você, que me lê e que não é professor possa imaginar. Ontem, por exemplo, eu tomei um iogurte, pus o pote na pia e a colher no lixo. Fora outras coisas que uma mente extremamente cansada é capaz de fazer. Perguntem pro meu marido. Se você chegou até aqui, agradeço a leitura e peço orações para todos os profissionais da educação. Aos professores e, principalmente, professoras do Brasil. E para os alunos da educação pública. Muitos não têm nem comida, que dirá acesso ao ensino online. E quem vai dar jeito nesse abismo quando as aulas presenciais voltarem? Nós, os professores.



P.S. Este texto foi escrito originalmente no Facebook no auge da pandemia de Covid19 e resolvi postar aqui também.