quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Ele era o menino mais lindo da escola...

James Dean

Ele era o menino mais lindo da escola quando eu estava na sexta série. Vou chamá-lo pelo codinome: "Aranha". 

Era nosso "crush", termo mais atual enquanto edito esse texto. Quando escrevi, não existia um termo que definisse bem, mas era isso; meu crush e de muitas colegas de escola. 

Me lembro que a primeira vez em que conversamos, foi em 1991, final do primeiro bimestre e, o dia em que perdi minha primeira média na vida: em Matemática. Depois dessa foram várias. Porém, a primeira vez é um tiro. 

Aquele número de caneta vermelha doía na  minha alma e eu chorava de soluçar.

Foi quando notei que ele se sentou no banco na frente do meu, no ônibus escolar,  e perguntou o que tinha acontecido, só consegui mostrar o boletim, sem dizer palavra.

Ele deu uma risada gostosa e disse: "Não fica assim, sempre tem uma primeira vez. Se você visse o meu, ia ver o que é perder média. Acho que não tem nota azul."

Sequei os olhos e ri um pouquinho.

O Aranha tinha aquele ar de bad boy que a gente gostava, do rock e do cinema, e sempre usava uma jaqueta jeans surrada, e calças rasgadas, que era a moda da década de 90. Tinha cabelos pretos revoltos, pele clara, algumas poucas espinhas e bastante barba, sempre feita. 

Creio que era repetente, pois já tinha quase uns 18 anos e ainda estava na sétima série (atualmente, 8o ano).

Depois do episódio da nota vermelha, eu saí dessa escola por um ano, por outras questões, e quando eu voltei, o menino mais lindo da escola, devia ter mudado de lá, ou passado para o turno da noite. porque até então, nunca mais soube dele.

Nunca mais vi o 'James Dean' da Sandoval.

Nunca mais, até antes de ontem.

Estava eu no centro de BH, plena Avenida Paraná, no meu corre diário, quando vi uma figura familiar no meio de tanta gente. Muita gente. Vocês não tem noção de como era a Paraná antes da reforma. 
 
Aquele mesmo rosto, mais amadurecido, é verdade. O corpo que era magro, escondido sob a jaqueta, é que não era o mesmo. Ele havia ganhado alguns quilos naqueles quase vinte anos.

Parei perplexa na calçada: "Meu Deus, o Aranha..." Não pela forma física dele, mas pela emoção de revê-lo. Hesitei por um momento em chamá-lo. Não chamei.

Ele certamente não se lembraria de mim. E eu sempre fui tímida, essa é a verdade.

E eu particularmente odeio quando alguém me encontra e pergunta: "Oi, lembra de mim?"

É claro que não! (mas não digo, para não parecer grosseira) 

Seria tão melhor se ao invés de perguntar as pessoas chegassem, pedissem licença e dissessem: " Oi, meu nome é ... nos conhecemos em tal lugar" aí, talvez, a gente se  lembrasse, né? Por que dificultar tanto as coisas?

Ainda bem que existe o Orkut. Ajuda a reencontrarmos pessoas do passado e  sem pagarmos o mico de ter que fazer ou sofrer a pergunta " oi, lembra de mim?" ali cara a cara.

Para concluir essa história,  num passado bem distante, 30 anos pra ser exata, ele era o garoto mais lindo da escola.

Hoje, para as garotas de 13, como eu naquela época, ele pertence à classe dos tiozões com barriga de chopp. 
E para as mulheres de minha idade, ele é mais um coroa charmoso, como muitos que circulam por aí.



Editado em julho de 2021.